Entrevista
Danilo Moraes, ator carioca com passagem pelo teatro, cinema, TV e publicidade, agora se prepara para realizar seu segundo filme de curta metragem como diretor, O Desaparecimento de Álvaro Tenente. O filme conta a história de um homem abordado na rua por uma quiromante, que prevê seu sequestro. A partir daí, ele é tomado pela paranoia e se tranca em seu apartamento, onde perde todo contato com o mundo externo.
Danilo começou trabalhando em uma videolocadora aos 16 anos, quando sua relação com o cinema era somente a de espectador. A paixão pelo cinema o levou a se tornar ator, mas durante esse processo, sempre flertou com a direção. Após uma primeira experiência malsucedida, resolveu fazer um curta usando uma câmera de segurança chamado Sorria! Você Está Sendo Filmado. Agora, pela primeira vez está imprimindo em película tudo o que aprendeu na sala escura com seus diretores preferidos.
Por que procurar trabalho numa locadora, foi por gostar de filmes ou por necessidade?
Na verdade, eu tinha uma amiga que trabalhava em uma micro livraria que ficava no hall do Estação Paissandu, e não lembro exatamente as circunstâncias, não sei se ela ia sair de lá ou coisa assim, eu fui falar com ela porque queria pegar o trabalho dela, porque acho que ela via os filmes do cinema de graça. De verdade, não lembro mais, isso foi 97. Mas ela disse que tinha um amigo que tinha acabado de abrir uma locadora e estava precisando de gente. Aí fui na Cobal (do Humaitá, espécie de mercadão conjugado a bares, restaurantes e outros estabelecimentos comerciais) e conheci o Cavi (Borges, dono da videolocadora Cavídeo), quando a Cavídeo tinha uma semana de idade. Mas fiquei muito pouco lá, basicamente dava uma ajuda na divulgação às sextas, porque a Cobal naquela época virava um mar de gente sexta à noite, e no domingo que ele tirava para descansar.
Já pensava em trabalhar com cinema nesta época ou o negócio era só poder pegar todos os filmes que gostava de graça?
As duas coisas. Sempre quis mexer com cinema, mas na época eu não sabia nada, era muito novo, só sabia ver os filmes. E acabou que trabalhei pouco lá, mas como ex-funcionário, eu pegava os filmes de graça. Eu costumava pegar três por dia e varava a madrugada vendo. E ele tinha filmes que as outras locadoras não tinham. Era bem legal. Caramba, era VHS naquela época ainda. Que loucura...
Quais as principais diferenças que você vê de seu primeiro filme, Sorria! Você Está Sendo Filmado, para O Desaparecimento de Álvaro Tenente?
Sorria!... é muito mais simples, praticamente uma brincadeira entre amigos. Eu escrevi o Sorria! depois de ter tentado fazer um primeiro curta chamado Inês é Morta!, com o Fabrício Belsoff e a Lara Gay, que acabou não dando certo, foi mal planejado, mal filmado, o material não montava e, mesmo que montasse ia ter ficado uma merda. Às vezes eu ainda penso em entregar esse material na mão de algum montador criativo e dizer: transforma isso em alguma coisa. Deve dar um exercício interessante. Um bom filme, não tem como. Daí, dessa frustração de ter começado trocando os pés pelas mãos, eu quis fazer algo de simples execução, ancorado numa idéia básica, e com a infra estrutura mais barata do mundo, e surgiu a idéia do circuito interno do Sorria!.
O Desaparecimento..., apesar de estar sendo feito em um esquema parecido no sentido da simplicidade de produção, ele é totalmente diferente por ser bem mais ambicioso narrativamente, ter uma história mais complexa, estar sendo feito em película... O Sorria! foi feito em uma câmera de segurança de verdade, esse está sendo feito em uma Bolex de corda! (Risos) Acho que estou querendo revisitar a irresponsabilidade do Inês, mas com a segurança de que este será feito direito, como o Sorria!, mas não tão modesto.
Como surgiu a ideia para este roteiro e como foi o processo de criação?
Este roteiro surgiu do conto do Arménio (Dias Filho, escritor), que eu quis transformar em curta assim que eu li. Mas a primeira idéia que eu tentei fazer tinha algumas diferenças do que estamos fazendo, ela era mais cara, até porque havia uma possibilidade de fazermos o filme com algum dinheiro, mas acabou não rolando. Mas aí quando resolvemos fazer a parada “no amor”, eu falei com a Maíra (Fernandes, produtora), porque lembrava que ela tinha ganho umas latas 16mm de alguém que trabalhava em uma produtora e não iam mais usar o filme porque ele tinha vencido, e queria saber se ela já tinha usado o filme, e se tinha o suficiente para filmarmos esse roteiro. Ela se amarrou na idéia, e eu fui chamando as pessoas, a Helena (Labri, atriz), o (ator Daniel) Bouzas, o Johnny (Luiz Henrique Dunham) cedeu o apê pra gente filmar... eu conheci o Othon (Castro, diretor de fotografia) numa aula na PUC. Eu estava servindo de “cobaia” como ator para a aula do Walter Lima Jr. de direção de atores para os alunos do curso de cinema da PUC, e teve uma semana que o Walter faltou porque estava lançando Os Desafinados em Guadalajara, aí o Othon cobriu ele nas aulas lá. E aí a gente trocou contato, eu falei pra ele do filme, e ele comprou a idéia.
Por que filmar em película 16mm e numa câmera tão limitada? Não era mais fácil fazer com recursos digitais, como no seu filme anterior?
É, o filme anterior oficialmente foi feito em minidv. Ele foi captado pela câmera de segurança, mas a mídia em que ele foi gravado foi minidv, que é de uma qualidade muito inferior. É claro que hoje em dia filmar em digital é mais fácil, mas como a gente tem a câmera e as latas de 16mm - que estão enxergando porque a gente testou o filme - a ideia acabou se tornando fazer uso disso. Eu nunca filmei em película e a tendência cada vez mais será o digital, e eu sou de uma geração que vai usar pouco ou nada de película. Então pode ser uma das poucas oportunidades de se fazer um filme em película pra mim. E é muito divertido.
Já pensa em algum novo projeto?
Pensar, vários. Têm alguns roteiros na fila. Mas no momento, a cabeça está ocupada só com o Álvaro Tenente.
Entrevista concedida ao jornalista Victor Klier.